Por que não temos Super Apps no Brasil?

Por que não temos Super Apps no Brasil?
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Houve um tempo aqui no Brasil onde o hyper era “Super App”, sabe aquela ideia de “um app pra tudo”? Pois é. Na China, isso não é hype, é rotina e realmente funciona. Enquanto aqui no Brasil a gente ainda debate se o Rappi é ou não um super app, os chineses já estão pagando o ônibus, pedindo comida, reservando hotel e até resolvendo imposto de renda sem sair do mesmo app. Tudo ali, dentro do WeChat ou do Alipay.

Mas o que pouca gente sabe é como isso funciona. Diferente das empresas brasileiras que querem colocar cada vez mais features dentro dos APPs, lá na China funciona porque o segredo não tá em entupir o aplicativo de funções, mas sim nos Mini Apps, que são pequenos aplicativos de terceiros que vivem dentro do super app, tipo lojinhas num shopping digital. Você não baixa nada, não cria conta, não troca de tela.

Quer café? Mini app da cafeteria. Quer táxi? Mini app da DiDi. Quer pagar conta, agendar médico, comprar ingresso? Tem mini app pra isso também. E tudo dentro de uma plataforma que já sabe quem você é, onde você mora e qual cartão vai usar. Prático? Muito. Um pouco Black Mirror? Também.

Na China, o super app é muito mais que um app com esteroides, é um ecossistema bem amarrado.
Tem modelo de negócio claro, tecnologia aberta, UX fluida e parceiros que jogam juntos. É o famoso jogo coletivo, relação ganha-ganha e por isso da certo.

A China pulou a fase do desktop e nasceu mobile-first. Ninguém usa Google, WhatsApp ou Facebook. O WeChat virou praticamente o RG digital do país. O pagamento por QR code virou regra antes de virar moda e o governo e as empresas abriram APIs e simplificaram integrações.

Junta tudo isso com uma cultura menos neurótica com privacidade e você tem um ecossistema onde o app é quase uma extensão da vida real. Enquanto isso, aqui no Brasil o cenário é outro.

Aqui cada empresa quer ser o líder do mercado. Além disso a regulação é pesada temos LGPD, Banco Central, Cade. Se um app começa a fazer tudo, vira alvo. O mercado é fragmentado, com mil apps disputando transporte, banco, delivery, até vaga de estacionamento. E o usuário brasileiro… já se acostumou ao caos.

No fim das contas, o brasileiro já se adaptou ao próprio ecossistema de microapps. Tem app pra pedir comida, outro pra pedir o carro de aplicativo, outro pra ver o saldo, outro pra pedir medicamento, outro pra comprar ingresso do cinema, outro pra consulta médica e assim o hábito venceu a conveniência.

Por outro lado é curioso, porque aqui não falta tecnologia. Se pensarmos em sistema bancário especificamente meios de pagamento temos Open Finance, Pix, e APIs abertas prontas pra nos tornarmos a potencial dos apps. Falta só combinar o jogo e claro, quem vai querer dividir o controle do vide-game.

E tem outro detalhe, no Brasil o mercado é tão competitivo que cada um já tem seu trono. Temos o app que manda na comida, o app que domina o varejo, o app que domina o setor financeiro… juntar tudo num app só seria tipo montar um condomínio onde cada morador quer ser síndico.

O que nos resta é super app do jeitinho brasileiro. Talvez o futuro dos super apps brasileiros nem seja um super app, mas uma rede de experiências que se conectam entre si, cada uma no seu quadrado, mas conversando direito.
Tipo um condomínio digital com portaria inteligente, cada um cuida da sua casa, mas a rua é compartilhada.

No fim, um super app de verdade não é sobre colocar tudo no mesmo aplicativo. É sobre criar um ecossistema onde todo mundo ganha, seja o usuário, a empresa, o desenvolvedor e sim, o governo.

Aqui cada um ainda quer ser o “super”. Esperamos que quando o mercado amadurecer e as parcerias ficarem mais inteligentes, talvez a coisa ande.

Até lá seguimos com 47 apps no celular e o boleto do condomínio perdido em algum deles. Vida digital que segue…